A Esquerda de Israel

18.09.2019

A informação forma consciências, molda visões do mundo. Pensemos em Israel. A realidade política e social desse país é mais complexa do que se costuma dar a entender. Ouve-se falar sobre as eleições para os 120 deputados do Knesset (Parlamento) e a ideia que passa é a de que só existe o centro (Kaḥol Lavan, com 33 deputados) e a direita (HaLikud, o partido de Benjamin Netanyahu, com 32 deputados). Não se fala da esquerda (HaReshima HaMeshutefet, com 12 deputados). Esta terceira força em termos de votação é uma coligação que advoga a solução dos dois estados (Israel e Palestina) e defende os árabes israelitas. Dentro desta coligação que subiu neste acto eleitoral, o Maki, Partido Comunista de Israel, tem um papel fundamental, sendo o partido com mais eleitos (3 deputados).

Vacas e Modos de Produção

18.09.2019

A resposta ao Reitor da Universidade de Coimbra (UC) veio de Vila Pouca de Aguiar. As reacções do criadores não se fizeram esperar. E não é só o gado maronês, mas todo o gado autóctone, quando é criado nas condições do seu habitat natural. O problema não são as vacas, mas o modo de produção. Que o combate às alterações climáticas não nos torne irracionais, inimigos da inteligência e do bom senso. Produzir e consumir localmente é uma medida fundamental na acção pelo clima e está provado que é mais benéfica para a saúde das populações locais, que fazem parte do mesmo ecossistema. Agora, imagine-se que a Reitoria da UC decidia e anunciava que a instituição passaria a privilegiar a compra de ingredientes alimentares locais, por convicção ecológica e para contribuir para o desenvolvimento da região. Talvez não gerasse parangonas, não é? Já agora, vale a pena espreitar os compromissos críticos e sensatos do Partido Ecologista “Os Verdes” para estas eleições.

O Nosso ADN

14.09.2019

Lembro-me bem das palavras, ouvidas de passagem na Festa do Avante deste ano: “É impressionante que se consiga organizar isto. Mas o que mais me impressiona é que esta gente não se deixa ir abaixo, não desiste de lutar pelo que é justo, não fica a lamber as feridas. Tem uma força incrível. Mesmo no pessoal mais jovem se nota. Parece que passa de geração em geração. Acho que nenhum outro partido aguentava quase meio século de clandestinidade em ditadura. As pessoas desistiam, abandonavam a coisa para tratar da vidinha.” Claramente, pela maneira como falava, o homem não era militante do Partido Comunista Português. Não sei que contacto tem com comunistas portugueses ou se esteve muito tempo a pensar e foi ali, no meio daquela festa imensa, que conseguiu finalmente dizer o que eu ouvi. Não sei quem era. Sei que sabe mais sobre nós e o nosso ADN do que os banais comentadores políticos que vamos ouvindo.

Avivar a História

12.09.2019


48.

Estranho esta ideia de que quem está contra qualquer projecto museológico em torno do espólio de António de Oliveira Salazar, para a partir daí construir um discurso sobre o Estado Novo, quer apagar a história. Vivemos num país onde a defesa da memória histórica do que foi a repressão fascista e da luta pela liberdade contra a ditadura quase não ocupam o espaço público nem os contextos educativos. Basta espreitar os livros e currículos escolares. O desconhecimento do nosso passado recente é cultivado em muitas escolas. É isso que vale a pena mudar, não apenas por respeito pelo passado, mas em nome do futuro. Tenho a experiência de mostrar um filme como 48 (2009) da Susana de Sousa Dias na universidade e registar a surpresa da maioria dos estudantes sobre a brutal violência política da PIDE em Portugal. Adelino Silva, Álvaro Pato, Conceição Matos, Domingos Abrantes, Manuel Martins Pedro, Matias Mboa: nunca tinham ouvido falar daqueles nomes. O de Salazar vai sendo nomeado, muitas vezes de forma amena, benévola, tolerável, mas ainda sem espólio. Hoje, João Miguel Tavares escreve no Público que Salazar criou uma “ditadura de baixa intensidade” — um insulto vil para quem foi perseguido, encarcerado, torturado, e morto ao lutar pela democracia. Hoje, o PNR e José Pinto-Coelho clamam “honra a Salazar”. Hoje, há uma onda bem real de extrema-direita que cresce na Europa. É neste momento histórico que estamos. Saibam os democratas estar à altura do que lhes é exigido.

Liberdade, Democracia, e o Dever da Memória

11.09.2019

“Condena firmemente a criação de um ‘museu’ dedicado à memória do ditador Oliveira Salazar em Santa Comba Dão, independentemente da sua designação, considerando essa criação uma afronta à democracia, aos valores democráticos consagrados na Constituição da República e uma ofensa à memória das vítimas da ditadura.”

O voto foi apresentado pelo Partido Comunista Português na Assembleia da República. Foi aprovado com votos a favor do BE, PCP, PEV, e PS, e a abstenção do CDS e PSD. O PAN não participou na votação.

A liberdade custou a conquistar em Portugal. É um custo que a democracia deve saber respeitar, caso contrário faz ruir as suas fundações. E é uma liberdade que, por essa razão, tem o dever da memória, não do ditador, mas das vítimas da ditadura. Escrevo isto no dia dos 77 anos da morte de Bento Gonçalves, segundo Secretário-Geral do PCP, no campo de concentração do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde.

O Infortúnio e o Carrossel

02.09.2019

Ouço António Costa falar sobre as novas normas laborais e só consigo imaginar os grandes patrões sem escrúpulos a esfregarem as mãos de contentes e os jovens trabalhadores a coçarem a cabeça, perplexos. Diz ele que o período experimental foi aumentado, sim senhor, para 180 dias, mas foi integrado nos contratos sem termo de trabalhadores, perdão, colaboradores. Para todos? Não, só para quem procura o primeiro emprego e desempregados de longa duração sem qualificações — talvez seja para serem castigados pela sua circunstância com o infortúnio. E o período experimental implica um vínculo efectivo posterior? Nem por isso, na prática transforma-se num contrato a termo de seis meses, sem necessidade de fundamentação e sem direito a compensação — talvez seja para viverem alegremente num carrossel.

Haja Força!

01.09.2019

Entre a “paciência revolucionária” de Jerónimo de Sousa e a “paciência reformista” de António Costa não é possível uma aliança. Só é possível um trabalho conjunto que vise avanços económicos, sociais, políticos, e culturais que serão sempre limitados. Aquilo que guia o Partido Comunista Português, dentro e fora da CDU - Coligação Democrática Unitária, é a superação do domínio do capital monopolista do Portugal desigual e das imposições externas do Portugal amarrado — um horizonte que não cabe nas palas que confinam o reformismo. O capitalismo não é reformável, não é capaz de resolver as suas devastadoras contradições. Mas é transformável noutro sistema. Não desistimos da edificação de uma sociedade liberta da exploração humana, verdadeiramente democrática, assente nos valores da Revolução de Abril: democracia, liberdade, expressão popular, emancipação, solidariedade, justiça social, respeito pelo meio ambiente, paz, soberania, cooperação, e progresso. Não desistimos do socialismo. Haja força!