Ganhámos uma Camarada

28.10.2019

Durante a última campanha eleitoral, soube de gente que gostava de ter apoiado publicamente a CDU (PCP-PEV) e que não o fez porque estava numa situação precária e receou retaliações. Soube de quem, estando com o PCP, sussurrou nos locais de trabalho a outro votante para que mais ninguém soubesse. É preocupante, mas também de alguma forma sintomático, que tal aconteça à CDU e ao PCP na nossa jovem democracia, com muito para avançar, com a marca da Revolução de Abril mas com o seu ímpeto sempre ameaçado.

É evidente que ninguém vem ao Partido Comunista Português para ter uma vida fácil, cheia de portas abertas, olhares de admiração, e outras coisas que tais. Quem procura essas facilidades e vaidades rapidamente percebe que estará melhor noutro sítio. Quem vem ao PCP, quem nele se inscreve como militante, para ajudar e contribuir, para integrar um colectivo como indivíduo, dá um passo que, em muitos casos, teve de vencer uma barreira de preconceitos e mal-entendidos. Sabe que só a convicção transformadora feita ânimo de muitas mãos e de muitas cabeças a pode manter sem desalento. Desanimar é olhar para baixo, largar os laços da união que fazem a força, que tecem a organização, únicas formas de combater os males estruturais do capitalismo, que continua a gerar contradições gritantes sem capacidade de as resolver. A história não acabou e os comunistas sabem-no, provam-no dia após dia, “mantendo vivos no pensamento e na acção valores básicos elementares como a igualdade de direitos, a generosidade, a fraternidade, a justiça social, a solidariedade humana”, como escreveu Álvaro Cunhal.

Reparem nesta fotografia de David Manso da Festa do Avante!: as crianças brincam como a humanidade sonha, com gestos concretos e criativos. É uma imagem apropriada para este dia tão feliz. Ganhámos uma camarada. Não é caso único e é essa acção, essa resposta, consciente e determinada, que o tempo exige. Ganhámos uma camarada e sem a camaradagem não há Partido nem há futuro digno desse nome. Bem-vinda.

A Água como um Bem Público e Não como um Bem Económico

28.10.2019

Da Liberalidade de uma Iniciativa

13.10.2019

Ainda é cedo, mas já se percebeu que a Iniciativa Liberal age como um espertalhão. Quer ter iniciativa antes de estudar e conhecer. Quer ser liberal mesmo em relação às regras de funcionamento da nossa democracia. O deputado eleito por Lisboa, João Cotrim de Figueiredo, veio afirmar, com dramático estrondo, que vai votar contra o programa de governo do PS. Acontece que o programa de governo não vai a votos na Assembleia da República. O que pode ser votada é uma moção de rejeição a esse programa — como aconteceu em 2015, em relação ao que tinha sido apresentado por Pedro Passos Coelho. Duas lições de ouro que podem causar mossa ideológica: a primeira é que a iniciativa, por si só, não garante o acerto; a segunda é que liberdade não se exerce no vazio e, por isso, tem sempre limites.

O Futuro de que Precisamos como Horizonte

13.10.2019

Algo que sempre me espantou: a ideia da rigidez e imobilidade do Partido Comunista Português, que já viveu e passou por muita coisa nos seus quase 100 anos de existência. Sobrevive às convulsões da Primeira República (1910-1926). Passa à clandestinidade no período da ditadura fascista. Integra várias coligações eleitorais (FEPU, APU, CDU) depois da Revolução de Abril de 1974. Ajuda à integração de outras forças nessas coligações (a UDP, co-fundadora do BE, em 1991). Assume responsabilidades autárquicas mesmo onde não ganha as eleições. Trabalha em conjunto de forma construtiva. Encontra soluções políticas para impasses institucionais. Etc. Tudo feito com criatividade e flexibilidade, tendo em conta as exigências e as condições de cada momento. E, no entanto, nada disso permite apagar essa imagem. Porquê? Por causa das ideias feitas, é certo. Mas também porque o PCP tem um projecto, um ideal, um horizonte, que não trai nem abandona, cuja necessidade a realidade não desmente mas confirma todos os dias. O que me parece rígido e imóvel é a relutância na adaptação a uma situação diferente, a falta de inventividade na resposta, a insistência numa solução encontrada para outro contexto, o fechamento no que já foi, a dificuldade em ler um presente cheio de potencialidades e perigos. Um PS de mãos livres seria aquele que tivesse maioria absoluta. Esta legislatura vai ser exigente para esse partido, porque serão as opções e objectivos do seu governo, a convergência ou divergência com as forças de esquerda, que determinarão a estabilidade governativa. Com ou sem papel, o PCP lá estará para participar na construção do futuro de que precisamos.

Isolar

11.10.2019

Vejo muita gente, mesmo muita, cair em manobras de petições, divulgando, comentando, reagindo, propagando, respondendo com contra-petições. Ou seja, ajudando a colocar no centro da actividade política e do debate político quem lá não deve nem pode estar se queremos preservar a democracia que temos. Parece-me que, em vez disso, precisamos de uma estratégia de isolamento dessas forças reaccionárias e anti-democráticas.

Discriminação Etária

03.10.2019

Fala-se tanto de discriminações e preconceitos vários para os combater, e ainda bem, mas a discriminação etária passa muitas vezes em claro no nosso país. O modo como é olhado pela comunicação social Jerónimo de Sousa, que com 72 anos faz mais e dá mais de si do que muita gente mais nova, é um perfeito exemplo disso. Baseia-se na ideia de que os “velhos” são lentos, fracos, dependentes, senis, inúteis. Pois bem, se há coisa que sempre admirei na CDU e no PCP é o contributo que cada pessoa pela sua identidade, pelo seu percurso, pela sua actividade, pelo seu conhecimento, pode dar a esta força democrática e de unidade. Não olhamos para os muitos jovens que nela participam como imaturos, desinteressados, irresponsáveis. Não pomos de lado os mais velhos como se já nada tivessem a dizer ou a fazer. Pelo contrário. Cada pessoa contribui como sabe e pode, não só nas campanhas mas sobretudo na vida política quotidiana. E esse contributo é respeitado e integrado, porque cada um deles ajuda a consolidar posições colectivas, partilhadas, fundadas em aspirações legítimas e na experiência acumulada.

Repúdio, Travamento e Abandono do “Museu Salazar”

18.09.2019

Há uma nova petição sobre um projecto museulógico em torno do espólio de Salazar, da qual sou um dos primeiros subscritores. Juntem-se, assinem, divulguem, apoiem aqui.