Algo que sempre me espantou: a ideia da rigidez e imobilidade do Partido Comunista Português, que já viveu e passou por muita coisa nos seus quase 100 anos de existência. Sobrevive às convulsões da Primeira República (1910-1926). Passa à clandestinidade no período da ditadura fascista. Integra várias coligações eleitorais (FEPU, APU, CDU) depois da Revolução de Abril de 1974. Ajuda à integração de outras forças nessas coligações (a UDP, co-fundadora do BE, em 1991). Assume responsabilidades autárquicas mesmo onde não ganha as eleições. Trabalha em conjunto de forma construtiva. Encontra soluções políticas para impasses institucionais. Etc. Tudo feito com criatividade e flexibilidade, tendo em conta as exigências e as condições de cada momento. E, no entanto, nada disso permite apagar essa imagem. Porquê? Por causa das ideias feitas, é certo. Mas também porque o PCP tem um projecto, um ideal, um horizonte, que não trai nem abandona, cuja necessidade a realidade não desmente mas confirma todos os dias. O que me parece rígido e imóvel é a relutância na adaptação a uma situação diferente, a falta de inventividade na resposta, a insistência numa solução encontrada para outro contexto, o fechamento no que já foi, a dificuldade em ler um presente cheio de potencialidades e perigos. Um PS de mãos livres seria aquele que tivesse maioria absoluta. Esta legislatura vai ser exigente para esse partido, porque serão as opções e objectivos do seu governo, a convergência ou divergência com as forças de esquerda, que determinarão a estabilidade governativa. Com ou sem papel, o PCP lá estará para participar na construção do futuro de que precisamos.