Francisco Rodrigues dos Santos (CDS) decidiu comentar as comemorações do centenário do Partido Comunista Português. A comunicação social fez eco da investida ideológica. Disse ele que não aceita aquilo a que chama de “glorificação do comunismo”. Parece preferir o mitificação da “democracia cristã”. A expressão sempre me pareceu um evidente equívoco. A história humana tem demonstrado que a religião e a política, tendo intercessões e ligações na vida de muita gente, não devem ser amalgamadas dessa forma como se fossem a mesma coisa ou dependessem uma da outra. A separação entre o poder político (César) e a autoridade religiosa (Deus) permanece fundamental (Mt 22,21). Independentemente destas minhas reservas, distâncias, e distinções, é da mais elementar honestidade intelectual reconhecer que há partidos que se assumem como cristãos e de esquerda, como a chilena Izquierda Cristiana, participante na Unidade Popular (1971-1980), apoiante de Salvador Allende, e aliado permanente do Partido Comunista do Chile em diversas coligações. Só que no panorama chileno também há um partido cristão de direita. É o suficiente para desfazer a ideia de que os cristãos são de direita. Em Portugal, a insistência na expressão “democracia cristã” só pode significar que para a direita portuguesa até os cristãos são propriedade privada.