Como falar desta alegria? Com dificuldade. Das coisas vitais é difícil falar. Não falamos sobre o que nos corre nas veias porque é isso que nos faz falar. Já lá vai quase uma década e há uma história imensa de coragem e abnegação que entra pela nossa vida adentro até que uma se integre na outra. No meio das dificuldades, e as de hoje pouco são em comparação com as de outros tempos, o vivo contentamento não nos abandona. Escreve Álvaro Cunhal no início de “O Partido com Paredes de Vidro”: “A alegria de viver e de lutar vem-nos da profunda convicção de que é justa, empolgante e invencível a causa por que lutamos. O nosso ideal, dos comunistas portugueses, é a libertação dos trabalhadores portugueses e do povo português de todas as formas de exploração e opressão.” E acrescenta no fim do livro: “Partido da classe operária portuguesa, o PCP é activamente solidário com os trabalhadores de outros países capitalistas e as suas vanguardas revolucionárias na luta contra o capital e com todas as revoluções emancipadoras (da exploração de classe, do domínio colonial e nacional, de regimes de opressão) que se inserem no processo universal de liquidação do imperialismo e de libertação da humanidade.” Entre as páginas iniciais e as finais, encontramos a sistematização sobre o Partido Comunista Português tal como é construído, vivido, e desejado pelos seus militantes. Fazemos 100 anos. Temos uma longa história, de mulheres e homens que lutaram pela liberdade e pela democracia, nalguns casos até lhes roubarem a vida. Temos experiência acumulada. Mas é sempre o futuro que nos chama e nos move como força colectiva. Transformar o mundo numa “terra sem amos” continua a ser a nossa tarefa. Durante 48 anos de fascismo, houve quem pensasse que a ditadura nunca acabaria, mesmo no dia 23 de Abril de 1974. Quem se organizou e lutou para que isso fosse uma realidade não pensava assim. Agir era uma forma de antecipar esse futuro, de ter a certeza que viria. Não corremos atrás de utopias. Vamos ao encontro das potencialidades do presente, ontem, hoje, amanhã.