Já terá acontecido a muitos católicos e não apenas a mim. Amiúde, alguém que pouco sabe sobre religião, em geral, e sobre a Igreja Católica, em particular, aparece-nos com uma artilharia de estafados preconceitos que confunde com um conhecimento profundo. Em muitos casos, são fruto do que ouviu dizer ou da sua limitada experiência pessoal. Demora pouco até nos acusar de não sermos bem católicos, de fazermos afirmações que “não são permitidas aos fiéis” por contradizerem a visão fundamentalista que nos atribui. Eu, que como dominicano tenho convicção e gosto em ser ortodoxo, costumo ficar atónito. Como comentou o camarada Joaquim Namorado, homem livre, “a ortodoxia é uma verdadeira aventura neste mundo de heterodoxias cómodas e de aspiração à irresponsabilidade [...] é a forma mais eficaz de construir (sonhar) o futuro”. Lembrei-me disto quando assisti à estimulante “conversa improvável” entre José Pacheco Pereira e João Ferreira para o Público. A troca de palavras entre os dois atingiu um clímax hilariante quando o primeiro insistiu com o segundo que “um marxista-leninista não pode dizer isso” porque aquilo que estava a ouvir sobre a importância da vontade no curso transformador da história não corresponde à ideia simplista e rígida que tem do marxismo-leninismo. É o que acontece quando uma pessoa acha que sabe tudo sobre um tema à partida e arrumou esse dito saber numa gaveta estanque, fechada à chave.