Vontade de Caminhar

25.04.2020

Gostava muito de ter histórias espantosas para contar sobre as comemorações do 25 de Abril quando era criança e adolescente. Infelizmente, não tenho. É a vida. A família onde cresci dava valor a esta data à sua maneira, mas nunca me levou a comemorações de rua. Nunca senti que fosse algo realmente importante até chegar a Coimbra — tão tarde, mas ainda a tempo certamente. Estive envolvido durante vários anos nas Comemorações Populares do 25 de Abril em Coimbra a partir de 2014, contribuindo para reunir várias organizações e pessoas com e sem filiação partidária que partilham a consciência do movimento libertador e emancipatório que brotou deste dia. Foi aí que percebi finalmente que para nós, aqueles que nasceram depois de 1974 e que não viveram a Revolução dos Cravos, a comemoração do 25 de Abril não é apenas um dever de memória, mas uma exigência do presente. Como se, não tendo estado em 1974, tivéssemos a oportunidade de reviver este dia, isto é, de lhe dar vida para continuarmos a transformar a sociedade portuguesa com os valores de Abril, construindo um Portugal mais justo e solidário, mais democrático e desenvolvido. Desde essa altura que sinto esta responsabilidade: não recordamos, continuamos. Ao caminho aberto tem de corresponder a nossa vontade de caminhar.