A Despolitização da Política

21.07.2019

Quem procurar neste blogue não encontra textos contra o Bloco de Esquerda (BE). Não alimento preconceitos, mal-entendidos, falsidades, quando as convergências com o Partido Comunista Português (PCP) são imensamente maiores do que as divergências. Defendo que nos deve interessar, sobretudo, a unidade da esquerda. Mais uma vez não o farei. Mas a entrevista que Marisa Matias deu ao Expresso merece uma breve reflexão.

Associar a misoginia à ocorrência de a sua candidatura à presidência do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde (GUE/NGL) não ter reunido consenso e de o PCP e o AKEL (não esquecer) não a terem apoiado, parece-me que contribui unicamente para o processo de despolitização da política. (Além disso, promove-se assim a mentira em relação ao PCP, como comprovam Ilda Figueiredo, Inês Zuber, e Sandra Pereira, recém-eleita ao Parlamento Europeu.) É de assinalar que foi isso que Marisa começou por dizer: apenas que a sua candidatura não tinha reunido consenso. Agora disse outra coisa. Considerar que na avaliação de uma candidatura num grupo político com diversas perspectivas, mas que tem conseguido encontrar soluções consensuais de funcionamento e representação, deve ser privilegiado o facto de alguém ser mulher, portuguesa, etc., e não as suas ideias políticas, não contribui para a igualdade de género na participação política. É utilizar a diferença de género como arma de arremesso, abrindo a porta à chantagem (“se não estiveres comigo, estás contra mim e contra as mulheres”) e esvaziando a discussão política. Para que fique registado, o PCP apoiou a composição de um gabinete, corpo executivo do GUE/NGL, que inclui Marisa Matias (BE) e João Ferreira (PCP), e que tem como presidente, precisamente, uma mulher: Gabriele Zimmer (Die Linke).