A Medalha e as Leituras

08.04.2019

Duas breves notas para memória futura sobre o debate de ontem em Silves.

Antes do debate veio um camarada ter comigo. (Não falou durante a discussão. Esteve sempre atentamente à escuta.) Foi com um olhar comovido que me mostrou-me uma medalha de São Domingos que trazia consigo, proveniente de Fátima. Disse-me que a levou consigo para a guerra colonial em Angola. Fez trabalho de esclarecimento contra a guerra colonial entre os soldados portugueses, nunca disparou contra as forças de libertação angolanas, seguindo as orientações do Partido Comunista Português. Fez tudo isso com a imagem de São Domingos em mente, da qual recolheu forças para a persuasão e a capacidade de evitar o conflito armado.

Houve outro camarada que, durante as intervenções da assistência, afirmou que a ciência defende o evolucionismo e a Igreja Católica defende o criacionismo. Eu disse publicamente que tal não é verdade. Tive oportunidade de continuar a conversa com ele depois da sessão. Parece-me que quem coloca as coisas nestes termos está confuso sobre o âmbito da religião, mas também sobre o da ciência. Quando me falou de Adão e Eva percebi o queria dizer. Alguns populares ateístas contemporâneos têm argumentado o seguinte, promovendo a ignorância: a Bíblia foi lida de forma literalista durante séculos e, nalgumas comunidades, deixou de o ser à medida que a ciência avançou no conhecimento. A Bíblia não é um conjunto de livros científicos, mas religiosos. Basta ler Santo Ireneu (c. 130-220), figura dos primórdios do cristianismo, que fala sobre Adão e Eva como crianças imaturas, simbólicas de toda a humanidade a ganhar consciência de si própria, para perceber que são os fundamentalistas cristãos que se colocam fora da tradição cristã ao optarem por leituras literalistas, teologiamente paupérrimas.