Como qualquer pessoa convictamente religiosa, não consigo separar a política dessas convicções profundas. Não consigo separar nada, aliás, tendo em conta a dimensão existencial dessas convicções. (Bem sei que houve comunistas que perseguiram cristãos e cristãos que perseguiram comunistas. Tanto erraram os primeiros como os segundos. Tanto me distancio de uns como de outros. E não poderia pertencer a um partido anti-cristão, como é evidente.) Mas fora desse plano pessoal, no plano social, a separação entre a religião e a política é essencial numa sociedade democrática, pluralista, onde há quem tenha crenças diferentes e quem não as tenha sequer. Seja como for, a religião é também uma linguagem com raízes populares. Por essa razão, volta e meia, o discurso político recorre a ela. Por exemplo, em 2012, Jerónimo de Sousa (PCP) descreveu os lucros da GALP, nos quais o Governo PSD/CDS-PP não queria tocar enquanto o preço dos combustíveis aumentava, como um bezerro de ouro, isto é, como um objecto indignamente adorado. Atento como estou a estes usos, dei por mim a analisar o slogan da candidatura de Jair Bolsonaro que tantos cristãos brasileiros repetem: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.” Portanto, o Brasil acima de Deus. A expressão que me ocorre para designar esta idolatria política e heresia religiosa é nacionalismo metafísico.