À boleia de uma posição política densa, houve quem se dedicasse a escrever coisas verdadeiramente inacreditáveis sobre o Partido Comunista Português nos últimos dias. Coisas que repetem ideias feitas, que revelam ódios de estimação, como se quem as escreveu estivesse apenas à espera de uma desculpa. Coisas que eu nunca escreveria sobre qualquer organização política, não só por pudor, mas por respeito democrático. Coisas como a sobranceria e o paternalismo acerca dos seus membros, o recurso a dicotomias fáceis, o uso de epítetos em vez de argumentos, enfim, o desconhecimento profundo disfarçado de conhecimento simplificado sobre um partido com uma composição transversal onde militam mulheres e homens que trabalham nos mais diversos sectores, com diferentes características, formações, idades, experiências de vida, gostos, com órgãos próprios, democraticamente eleitos e muito activos. O Facebook é uma janela demasiado pequena e virtual onde não é fácil dialogar. A caracterização grosseira agrava essa dificuldade. Na realidade, quem conheça militantes comunistas de carne e osso, quem já tenha colaborado com elas e com eles, quem já tenha visto como estudam os temas, fazem propostas, e intervêm nos órgãos de poder regional, local, e central, considerará esta avalanche de impropérios algo absurdo, a raiar o irracional. No meio de tantas trocas de palavras, demasiadas vezes surdas, encontrei este comentário do insuspeito Rui Zink: “Aliás o PCP tem tradição de ponderar os assuntos com a seriedade devida, prática ética menos óbvia nos outros partidos. E isso não é retirar-lhes seriedade, é apenas que o PC (mesmo quando ‘pensa ou decide errado’) sofre e mastiga um bocado mais a questão em questão.” Para mim, isto rima com algumas boas conversas que fui tendo nos mesmos últimos dias. O resto são coisas que talvez só se expliquem com a força singular e persistente daquilo que se tenta denegrir. Avante.