O Estranho Silêncio

02.04.2018

Habituámo-nos a ler e a ouvir comentários vindos da direita conservadora e liberal de que as greves no sector dos transportes não existem porque as trabalhadoras e os trabalhadores são obrigados a defender, como força organizada, a sua dignidade face às condições laborais a que estão sujeitos. Não. Existem porque, enfim, as empresas são públicas. Se fossem privadas, tal não aconteceria. (Fica sempre a ameaça no ar de que o direito à greve, que por vezes é a única via de contestação, custando a perda de rendimentos a quem é assalariado, é uma espécie de “regalia”.) Por isso, estranho o silêncio dessas pessoas sobre a greve na Ryanair, uma empresa privada irlandesa. Uma greve que tem escancarado a intimidação a que estão sujeitas as trabalhadoras e os trabalhadores da empresa em greve em Portugal e aquelas que se têm solidarizado com esta luta noutros países. Talvez seja isso: é uma situação em que se vê a face monstruosa do capitalismo que alguma opinião prefere ignorar ou ocultar.