We have not, in our time, moved from socialism to apathy or reaction, whatever the pessimists may consider. We have moved instead from socialism to anti-capitalism. That is hardly much of a shift at all, and one which is in any case entirely understandable in the light of recently actually existing socialism; but it is, even so, a backsliding.
You can attain anti-capitalist consciousness simply by looking around the world with a modicum of intelligence and moral decency, but you cannot attain a knowledge of global trade mechanisms or the institutions of workers’ power in this way. The distinction between spontaneous and acquired political consciousness, whatever historical disasters it may have contributed to, is itself a valid and necessary one.
— TERRY EAGLETON, “Lenin in the Postmodern Age”, in Lenin Reloaded: Toward a Politics of Truth
Spontaneous and Acquired Political Consciousness
A Presença do Futuro
O III Congresso Internacional “Marx em Maio”, organizado pelo Grupo de Estudos Marxistas, vai decorrer de 3 a 5 de Maio na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O evento pretende celebrar os 200 anos do nascimento de Karl Marx. Integrei a Comissão Científica do encontro e participarei nele, com entusiasmo, logo no primeiro dia num painel sobre arte e religião. A minha comunicação tem o título “A Presença do Futuro: Marxismo e Cristianismo, Luta de Classes e Fraternidade Humana no Pensamento do Dominicano Herbert McCabe”. Eis o resumo:
O influente ensaio “A Luta de Classes e o Amor Cristão” (“The Class Struggle and Christian Love”) foi publicado em 1980. Escrito pelo frade dominicano Herbert McCabe, trata-se de um texto que se inscreve não apenas no campo da teologia política, mas também no âmbito da história das ideias. Tal como outros pensadores, McCabe, um socialista e revolucionário convicto descrito como “católico marxista”, dialogava com o marxismo a partir do cristianismo focando-se num aspecto central: a luta de classes. McCabe argumenta que o imperativo bíblico de fazer justiça, praticar o amor ao próximo e dar testemunho dos valores do Reino obriga os cristãos a juntarem-se aos marxistas na oposição ao capitalismo e na luta pela sua superação. Se o capitalismo tem como base o antagonismo humano, McCabe lembra que o cristianismo anuncia a possibilidade da fraternidade humana. O pensamento desenvolvido neste e noutros textos filosóficos e teológicos de McCabe é ainda hoje muito perspicaz em virtude da forma metódica e rigorosa que adopta. Procurarei cruzá-lo com as reflexões de outros pensadores. Muitos destes contributos para uma conversa produtiva e convergente entre o marxismo e o cristianismo permanecem desconhecidos em Portugal. Portanto, um dos propósitos desta comunicação é também divulgá-los, estudá-los, e continuar um trabalho intelectual que contou com a participação decisiva de McCabe.
Um Intenso Ódio de Classe
Fot. Francisco Proner/Reuters.
O Partido dos Trabalhadores (PT) cometeu erros políticos graves, sem que eles apaguem os seus muitos acertos. Mas como escreveu Frei Betto, certeiro, acatou “uma concepção burguesa de Estado, como se ele não pudesse ser uma ferramenta em mãos das forças populares, e merecesse sempre ser aparelhado pela elite”. A instrumentalização política das instituições de poder, a que se assiste desde o golpe, não pode ser desligada desses erros. Seja como for, vale a pena observar com atenção o ódio que sectores da sociedade brasileira (e não só) têm a Lula da Silva. É um intenso ódio de classe. E é isso que há-de ser derrotado com a nossa solidariedade.
Apelo pela Cultura
Gente aos montes em Coimbra. Defendem a importância fundamental de um serviço público de cultura para uma democracia plena. A dignidade de quem trabalha no sector. O acesso generalizado aos bens culturais. A luta continua!
O Estranho Silêncio
Habituámo-nos a ler e a ouvir comentários vindos da direita conservadora e liberal de que as greves no sector dos transportes não existem porque as trabalhadoras e os trabalhadores são obrigados a defender, como força organizada, a sua dignidade face às condições laborais a que estão sujeitos. Não. Existem porque, enfim, as empresas são públicas. Se fossem privadas, tal não aconteceria. (Fica sempre a ameaça no ar de que o direito à greve, que por vezes é a única via de contestação, custando a perda de rendimentos a quem é assalariado, é uma espécie de “regalia”.) Por isso, estranho o silêncio dessas pessoas sobre a greve na Ryanair, uma empresa privada irlandesa. Uma greve que tem escancarado a intimidação a que estão sujeitas as trabalhadoras e os trabalhadores da empresa em greve em Portugal e aquelas que se têm solidarizado com esta luta noutros países. Talvez seja isso: é uma situação em que se vê a face monstruosa do capitalismo que alguma opinião prefere ignorar ou ocultar.