Muitas e muitos colegas no Brasil, que conheço e com quem trabalho, esperam de nós aquela solidariedade que alimenta o alento. E é neste preciso momento que a Guiomar Ramos (UFRJ) me mostrou um documentário que está a finalizar sobre o seu pai, Vítor Ramos. Foi comovente e inspirador ver e ouvir “Por Parte de Pai”, pesquisa simultaneamente pessoal e histórica que põe em diálogo discursos e vozes. Vítor nasceu em Portugal em 1920 e envolveu-se desde cedo na luta antifascista, tendo militado no MUD Juvenil e no Partido Comunista Português. Esteve na clandestinidade nos anos 40. Foi perseguido pela PIDE. Passou por Paris, doutorando-se em Literatura Francesa na Sorbonne e aí conhecendo uma jovem brasileira, Dulce Helena, com quem casou em 1955. Ensinou literatura francesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Assis, na Universidade de São Paulo, e na Universidade da Califórnia, Davis. Em São Paulo, vigiado pelo DOPS, fundou o jornal Portugal Democrático que se tornou na grande bandeira de luta e resistência da diáspora portuguesa, denunciando com veemência a opressão salazarista. O dia 25 de Abril de 1974 foi também o dia do seu 54.º e último aniversário. A revolução foi talvez o melhor presente que podia ter tido. Ou seja, entre outras coisas, o filme da Guiomar demonstra a ligação de resistência política à ditadura e de luta pela democracia entre o Brasil e Portugal no século XX. É importante reavivarmos essa memória. Mas é igualmente importante assumirmos as responsabilidades de luta empenhada que o presente exige a partir dessa memória.