Menos de Metade

21.11.2017

A CGTP-IN fez as contas e concluiu que se o Salário Mínimo Nacional tivesse sido sempre aumentado desde 1974, considerando a inflação e a produtividade, atingiria no próximo ano 1267,7 euros. Mil. Duzentos. E. Sessenta. E. Sete. Euros. E. Setenta. Cêntimos. Tendo isto em conta, o aumento para 600 euros em Janeiro de 2018 defendido pela CGTP-IN, pelo PCP, pelo PEV, pelo PAN, e apoiado pelo BE, é, no mínimo, moderado, porque ainda claramente insuficiente. No entanto, incrivelmente, é discutido na comunicação social como se fosse uma proposta extrema e insensata. O patronato, já se sabe, é pela manutenção deste modelo de baixos salários e evidente exploração. O conflito de classes aí está, sem máscaras. Estamos a falar da luta por uma remuneração mais justa e mais digna, ainda longe daquela que devia ser. O discurso de quem conta a riqueza produzida por quem trabalha e a guarda para si tenta dominar para entorpecer o sentido crítico e enfraquecer essa luta. Não deixaremos. Não deixem.

Professores São Professores

15.11.2017

Não é de hoje a lenga-lenga de que a FENPROF só defende os professores do ensino público. Os professores do ensino privado e cooperativo têm piores condições de trabalho do que os seus colegas do ensino público. A intervenção da FENPROF e dos seus sindicatos tem sido firme nesta denúncia e na defesa dos direitos destes trabalhadores. Mas tem encontrado os bloqueios e as dificuldades que convêm às direcções de muitos colégios para manterem ou agravarem a situação actual (aumento do horário letivo semanal nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, banco de horas, regime de adaptabilidade dos horários, trabalho intermitente, possibilidade da entidade patronal marcar férias aos docentes nas interrupções letivas, redução de salários até 15%, congelamento das progressões na carreira, aumento da duração da carreira para 37 anos). Como são valentes os poucos dirigentes e delegados sindicais que continuam a ser uma voz incómoda e insubstituível nesses estabelecimentos de ensino, apesar da forte pressão quotidiana. Há exemplos de várias iniciativas da FENPROF neste sector que demonstram a falsidade da lenga-lenga. Deixo dois, recentes:

(1) o Abaixo-Assinado/Petição a decorrer por um Contrato Colectivo de Trabalho (CCT) digno para os Ensinos Particular e Cooperativo (EPC), Artístico Especializado e Profissional que respeite a Lei de Bases e o Estatuto do EPC;

(2) o Acordo de Empresa assinado ontem entre a FENPROF e o Colégio Valsassina.

Entre Dias

02.11.2017


Fot. Mikhail Japaridze/ITAR-TASS.

Esta é uma breve reflexão religiosa-política, entre o Dia de Todos-os-Santos e o Dia dos Fiéis Defuntos, dias da memória feita vida e da vida feita memória. Vladimir Putin inaugurou há dias um monumento em honra das vítimas da repressão estalinista. Houve quem visse cinismo e contradição neste gesto. Segundo consta, este projecto agora realizado com o título “Muro da Dor” vem ainda do tempo da União Soviética. A dor é também nossa. Eis uma obra indispensável que inscreve o passado no espaço público, obrigando-nos a lidar com ele. Os comunistas devem estar entre os primeiros a querer conhecer e lembrar estas sombras, tal como os católicos o devem fazer em relação à violência sancionada pela Igreja Católica, em muitos momentos, ao longo dos séculos. Os fins não justificam os meios. Talvez seja mais acertado dizer que os meios manifestam os fins. Devem por isso estar em consonância com eles, caso contrário distorcem e desvirtuam a finalidade anunciada. Não se combate pela justiça com a injustiça. Ou seja, não são razões para deixar de ser revolucionário, ou cristão, ou cristão revolucionário, para desistir de construir um mundo sem exploração, sem classes que se degladiam, um mundo de verdadeira liberdade onde a fraternidade não seja uma palavra estranha mas uma condição quotidiana. Estas horas que nos colocam entre o amor ao qual somos chamados e a morte para a qual muitos foram empurrados confrontam-nos também com um mal que não nos é distante. Para nos livrarmos dele, para o cortarmos pela raiz, é preciso não esquecermos, retirarmos lições dos erros trágicos do passado, mas é também urgente abraçarmos a radicalidade do que afirmamos, do que nos motiva e guia. E, neste ano em que se celebra o centenário da Revolução de Outubro de 1917, multiplicam-se tentativas de a menorizar e injuriar. A notícia do jornal Público sobre este monumento, por exemplo, falava no subtítulo sobre a repressão que se seguiu “à revolução bolchevique em 1917” e só lendo o artigo se percebia que o período era entre 1929 e 1953, em particular os anos de 1937 e 1938. Não é caso único. A Revolução de Outubro é vista como um perigo para a ordem capitalista actual que assim o tenta esconjurar, em muitos casos recorrendo a uma gritante indigência intelectual e falta de rigor histórico. É um perigo porque continua a inspirar, a influenciar, a fazer agir e pensar, organizar, lutar, numa altura em que o capitalismo não tem respostas para os problemas que criou e que apontam para a necessidade da sua superação e do avanço da democracia. Não nos dá um mapa nem um modelo, mas permanece um sinal de esperança transformadora para que quem é calcado se levante e resgate a sua dignidade, ombro a ombro. Como aconteceu na Revolução de Abril de 1974.