entre mim e ti há a terceira coisa
aquela que nos põe ao alcance da mão
os nomes todos das coisas e as coisas sem nomequando a multidão sagrada dos pronomes pessoais nos
permite dizer nós contra o tempo e o vento
Nós que aos cinco sentidos acrescentamos os outrosNós a sensibilidade que imagina o comum
quando uma multidão deixa de ser
um rebanho de escravos para começar a ser
uma assembleia de humanos livresde pé no chão da terra discutimos o que fazer
pelas mãos em concha bebemos a água
onde a luz do sol cintila irisando-aNós que para além de ti e de mim somos
a terceira coisa o fantasma o espectro
que lhes continua a assolar o mundo
a terceira coisa: a promessa sem garantias
a invenção do incomum que partilha o comum
o comunismo que vem connosco
e para além de nós recomeça a contar— MANUEL GUSMÃO, “Elogio da Terceira Coisa”
A Sensibilidade que Imagina o Comum
14.02.2014