Não nos Calamos!

02.05.2020

Fiquei logo vacinado no momento em que entrei para a direcção da CGTP-IN. A Isabel não foi eleita Secretária-Geral por ser mulher, mas por ter a experiência e as capacidades que essa tarefa exige. Aliás, há outras mulheres, quadros sindicais na Intersindical, que reunem as mesmas condições. E outros homens, também. É um sinal de vitalidade. Ora, independentemente destas questões essenciais, tem alguma relevância o facto de a Central ter uma Secretária-Geral pela primeira vez na sua história. Mas quase não se ouviram comentários sobre isso, sobretudo de quem coloca essa questão como central, ou até única. E quando se ouviram, foi para a desvalorizar. Porquê? Porque, enfim, a CGTP-IN ia continuar a ser o que tem sido e o que deve ser: uma forte organização de unidade, com sindicalistas de diferentes formações e perspectivas, com ou sem filiação partidária, em defesa do trabalho digno e contra o capital explorador. Uma chatice para algumas almas, muitas das quais menorizam o papel dos sindicatos, mesmo beneficiando de conquistas que não existiriam sem eles. Para elas, é sempre preciso reinventar a roda em vez de utilizar os poderosos instrumentos construídos pela luta organizada da classe trabalhadora. É preciso multiplicar, em vez de concentrar. (Ou enfraquecer, em vez de fortalecer.) É preciso fazer diferente, mas quando se faz diferente não devia ser assim. O problema de fundo é com a própria CGTP-IN, como é evidente. É uma espécie de pedra no sapato. As vozes dos trabalhadores em luta ouviram-se ontem na rua, respeitando as directivas das autoridades de saúde, que todos os portugueses devem seguir. Ouviram-se e era indispensável que se fizessem ouvir! A comparação de casos individuais, até do foro íntimo, com o Dia do Trabalhador, uma data com imenso peso social e democrático, não faz sentido. Quem ontem esteve nas iniciativas que decorrem pelo país não se apresentou a título individual, mas em solidariedade com colegas de profissão e com todos os trabalhadores, batalhando pelo bem comum. A defesa da vida não pode ser abstracta, mas concreta. Não é possível defender a vida contra a ameaça pandémica, sem defender a dignidade e a saúde daqueles que todos os dias sustentam e salvam vidas, os trabalhadores. Num contexto condicionado pela necessidade de conter e prevenir a pandemia, igualmente de extrema dificuldade para muitos trabalhadores e as suas famílias, estas vozes reuniram-se ontem, de modo criativo, respeitoso, lutador, com denúncias de atropelos laborais, informações fundamentais, reivindicações justas, e propostas urgentes. Como disse ontem a Secretária-Geral: “Alguns queriam calar-nos. Mas não nos calamos!”


Fot. CGTP-IN.